Foto: Ariane Viana - ACOM/UNITAU

Dia da Discriminação Zero: violência simbólica é tema de pesquisa em mestrado da UNITAU e de projeto de orientação em escolas

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26/02/2024 11h05 ⋅ Atualizada em 26/02/2024 11h07

Educação, Pós-graduação, Mestrado em Desenvolvimento Humano, Mestrado

 

O Dia Internacional da Discriminação Zero é celebrado em 1º de março. A data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) coloca em evidência dois dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): (5) Igualdade de Gênero e (10) Redução das Desigualdades.

O fato é que a discriminação pela identidade de gênero, pela orientação afetivo-sexual, pela cor da pele e tantas outras estão presentes nas instituições e, facilmente, também são identificadas e reproduzidas dentro das escolas. É a chamada violência simbólica, ou violência não física. 

Com objetivo de chamar a atenção da sociedade para o tema e de despertar na comunidade escolar a consciência para a importância de combater a violência simbólica, em alinhamento com o ODS (4) - Educação de Qualidade, Lilian Rosa Daher Macri, que é médica e educadora em sexualidade, desenvolve um trabalho de formação com professores, alunos e famílias. E foi esse projeto que inspirou a pesquisa “A violência simbólica nas questões de gênero no ambiente escolar: a percepção de estudantes e professores do ensino médio”, desenvolvida pela profissional no Mestrado em Desenvolvimento Humano (MDH) da Universidade de Taubaté (UNITAU).

“A temática da violência sexual está muito presente dentro da minha atividade, tanto de terapia sexual no consultório, quanto de educação em sexualidade. Eu comecei a estudar sobre ela e cheguei ao tema da violência simbólica, que é um conceito de Pierre Bourdieu (sociólogo) sobre como a manutenção da violência se dá nas instituições, como ela acontece na sociedade e é reproduzida”, explica a mestra em Desenvolvimento Humano.

E por que é tão difícil a sociedade quebrar essas bases de violência que, muitas vezes, são manifestadas por meio da discriminação e outras formas de violência simbólica? A pergunta orientou a educadora em sexualidade durante a pesquisa em busca de soluções para o problema. Segundo ela, entendendo o processo, o mecanismo de violência, é possível repensar estratégias e transformar os ambientes onde ela está presente.

“Essa é uma discussão necessária. A gente sabe o quanto a escola reproduz as desigualdades de gênero, a violência simbólica, que não é explícita, mas acontece nas entrelinhas […] Embora seja um assunto muito falado, ele não é aprofundado. Conhecer a percepção de estudantes e professores sobre o tema trouxe uma riqueza para essa pesquisa”, afirmou a Profa. Dra. Elisa Maria Andrade Brisola, orientadora da pesquisa de mestrado durante um episódio do podcast do MDH.


A educadora em sexualidade, Lilian Macri.
Foto: Arquivo Pessoal

E foi justamente isso que a Lilian fez durante o estudo. Com o objetivo de encontrar formas de combater a violência simbólica nas questões de gênero, e assim promover transformações na sociedade, a educadora em sexualidade criou grupos focais com estudantes e professores do Ensino Médio de duas escolas para ouví-los.

Por meio de entrevistas com os grupos, a pesquisadora constatou que a violência simbólica, embora não identificada com tal,  é percebida pelos alunos; e que os professores, na maioria das vezes, não percebem que estão inseridos nesse mecanismo, não possuem formação para enfrentá-lo e, portanto, não desenvolvem ações para combater o problema.

“Por isso é tão importante que a gente ouça o que os adolescentes têm para falar. E eles têm muito a dizer. A gente precisa querer ouvir e saber ouvi-los. Especialmente nessa fase da história em que tudo do adolescente é considerado ‘mi-mi-mi’. O mestrado me mostrou que, realmente, o caminho é torná-los sujeitos ativos dentro da formação”, afirma Lilian.

Já em relação aos professores, a educadora defende que eles também são sujeitos ativos, uma vez que têm a própria sexualidade e, comumente, trazem para o processo de educação muitas questões pessoais. Daí a importância da formação docente para o tema.

A discriminação e a violência simbólica são estruturais

A mestra explica que a violência simbólica, ou não física, é estrutural, e segundo a definição de Bourdieu se manifesta para evidenciar e manter o poder de um grupo social sobre outro. Por exemplo, o cidadão cresce e aprende que “tudo bem” praticar bullying dentro da escola, fazer piadas com minorias e reproduzir as desigualdades de gênero.

“Então, é muito fácil entrar nessa sem perceber que estamos fazendo parte. É por isso que o processo deve começar com a educação de professores. Para eles entenderem o porquê é importante falar disso e para que eles tenham ferramentas para interagir com os alunos em situações na qual a violência simbólica se manifesta”, explica. 

De acordo com a mestra, a falta de uma sistemática adequada para abordar o tema é negativa. O professor precisa ter claro o que é parte da construção pessoal dele e o que diz respeito à instituição escolar. Só com esses conceitos bem definidos e sistematizados, a abordagem do aluno em relação à violência não física pode acontecer de maneira adequada, rompendo, inclusive, as barreiras das diferenças entre as gerações.

“Quando converso a respeito disso na escola, sempre coloco, tanto para a família, quanto para os educadores, que a educação em sexualidade é baseada em ciência, em valores éticos e morais, para a gente não se perder nesse processo. Isso é fundamental nos dias de hoje, em que há tanta informação e, ao mesmo tempo, desinformação”, destaca Lilian.

Estimular a reflexão e o pensamento crítico sobre o tema tem dado resultado. Segundo a educadora em sexualidade, professores, alunos e as famílias têm entendido a importância de romper a violência simbólica estrutural e o impacto que as diferentes formas de discriminação têm na sociedade, especialmente em relação à saúde mental de adolescentes e jovens.

“É muito legal poder dividir essas informações que obtive no mestrado com as pessoas [...] Levar esse conhecimento e entendimento para a família e para os professores, de que é importante escutarem os filhos e os alunos. Eles querem falar e precisamos ouvi-los.”

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ACOM/ UNITAU