Foto: Prefeitura de São Sebastião/Divulgação

Estudo multidisciplinar aponta fatores que agravaram tragédia em São Sebastião

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15/01/2024 14h10 ⋅ Atualizada em 25/01/2024 08h23

Pesquisa, Pós-graduação, Desenvolvimento regional, Doutorado, Mestrado, Litoral Norte

 

Em 19 de fevereiro de 2024, a tragédia que deixou mais de 60 mortos em São Sebastião completa um ano. A chuva histórica superou 600 milímetros em 24 horas, o maior acumulado já registrado no país pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemanden).

Diante da catástrofe, pesquisadores do programa de mestrado e doutorado em Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté (UNITAU), em parceria com estudiosos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Centro  Paula  Souza (CPS), desenvolveram o estudo multidisciplinar “Desenvolvimento regional e a intensificação das catástrofes socionaturais: o caso do município de São Sebastião/SP”, recém publicado na Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional.

“Nosso objetivo foi estabelecer a relação entre o processo de ocupação do espaço e a ampliação dos riscos para a população no município de São Sebastião e analisar os fatores que contribuíram para o desastre ambiental ocorrido na cidade”, explica o coordenador do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UNITAU, Prof. Dr. Edson Trajano. 

Para consolidar o estudo, os pesquisadores analisaram dados econômicos, sociais, demográficos e climáticos e chegaram à conclusão de que o desastre ocorrido em São Sebastião é resultado da combinação entre as condições climáticas e as consequências das ações humanas, potencializadas com a segregação social e espacial existente no município. 

Conforme dados dos censos demográficos do IBGE, a população do Litoral Norte cresceu de 87.738 habitantes, em 1980, para 309.395 habitantes, em 2022, um aumento de 252,64%. Nesse mesmo período, o crescimento populacional da RMVale foi de 125,21% e do estado de São Paulo, de 77,38%. Já a média nacional ficou em 70,62%. Considerando apenas São Sebastião, município mais impactado pela tragédia de 19 de fevereiro de 2023, o número de habitantes saltou de 18.997, em 1980, para 81.540, em 2022.

O número de domicílios ocupados no Litoral Norte também cresceu acima da média entre 1980 e 2022, com aumento de 550,31%. A porcentagem é bem superior à média regional (RMVale: 229,65%), estadual (179,70%)  e nacional (187,37%). 

Ainda de acordo com a pesquisa, o desenvolvimento do Litoral Norte, a partir da década de 1950, foi motivado pela ampliação das atividades turística e portuária relacionada ao petróleo, que refletiram num crescimento econômico da região de 765,05% no período entre 1980 e 2020, conforme dados do Ipeadata.

O papel da ação humana e das mudanças climáticas

Cabe destacar que o estudo tem abordagem multidisciplinar e transdisciplinar, com contribuições advindas da economia, história, sociologia, geografia e meteorologia, cuja associação possibilitou a compreensão dos efeitos das ações humanas no ambiente, desde a expansão da malha urbana de São Sebastião, aos possíveis efeitos do aquecimento global relacionado às atividades humanas. 

Nesse contexto, chama a atenção que, até 1991, apenas 2,7% da malha urbanizada de São Sebastião estavam localizadas em áreas de relevo ondulado, e  apenas 0,2% em relevo de ondulação forte. A partir de meados da década de 1990 e início de 2000, houve aumento significativo da expansão urbana em áreas de risco e propensas à ocorrência de desastres naturais. A região passou a ter 5,1% de sua área em terrenos ondulados (+88,8%), e 0,7% em regiões de ondulação forte (+250%). A maior expansão da urbanização ocorreu justamente na porção sul do município onde o desastre natural estudado teve maior impacto. 

Apesar de o INMET ter feito uma previsão de chuva intensa para o período, o volume projetado pelo Instituto ficou abaixo do ocorrido. Isso porque as condições climáticas favoreceram o transporte de umidade da Amazônia para a região sudeste e um sistema ciclônico extratropical ajudou na formação de chuvas intensas. O resultado foi um alto acumulado pluviométrico em 24 horas, associado à ação humana de supressão da vegetação nativa das encostas e de instalação de infraestruturas urbanas, que refletiram no agravamento da situação que já era de elevado risco e vulnerabilidade para a população local.

“A configuração da urbanização expôs, progressivamente, a população do município de São Sebastião, residente em áreas de risco, às consequências advindas de condições climatológicas excepcionais, como aquelas ocorridas em fevereiro de 2023 e descritas no artigo em tela. O desastre ocorrido em São Sebastião decorre, desse modo, da combinação de condições climáticas com as consequências das ações antrópicas potencializadas com a segregação social e espacial presente no município”, diz trecho da pesquisa que não descarta, ainda, o impacto do aquecimento global para o agravamento do episódio.

Para o Prof. Dr. Edson Trajano, a produção de conhecimento sobre a realidade do Litoral Norte do Estado de São Paulo é imprescindível para subsidiar a gestão pública frente aos desafios oriundos da combinação do crescimento econômico, configuração do território e mudanças climáticas.

“É fundamental a criação de políticas públicas pautadas na inclusão social, econômica e territorial, assim como a não ocupação do solo nas áreas de risco. A gestão urbana precisa priorizar a inclusão social e a sustentabilidade econômica e social”, afirma Trajano.

Para conferir a pesquisa completa, acesse este link.

Pós-graduação na UNITAU

A Universidade de Taubaté está com inscrições abertas para mais de 20 cursos de pós-graduação presenciais e a distância, incluindo especializações, mestrados e doutorados nas áreas da saúde, da educação, da gestão, da administração e negócios, da engenharia, das ciências ambientais, entre outras. 

Para os cursos stricto sensu, a Universidade oferece mais de 40 bolsas de estudo, financiadas pela Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Ainda há bolsas previstas para parcerias, egressos e docentes que podem chegar a até 25% conforme as deliberações 139 (stricto sensu) e 140 (lato sensu) do Conselho de Administração (Consad) da Universidade. 

Para mais informações sobre os cursos de pós-graduação acesse este link.

ACOM/UNITAU