Coletivo Negro Luísa Mahin integra luta antirracista no ambiente universitário

18/11/2022 20h17

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Palavras são carregadas de história, cultura e sociedade, e termos como “a coisa tá preta”, “feito nas coxas” denotam violência histórica e funcionam como instrumento de manutenção da discriminação racial. Fossilizado na história do país, o racismo persiste mesmo após a abolição da escravatura e em meio a mudanças como a criação da legislação antirracista.

Neste contexto, faz-se necessária a atuação de movimentos negros e a celebração de conquistas e das lutas dos negros contra a opressão no Brasil, por meio de datas como o Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro.

Nesta data, em 1695, o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, aos 40 anos de idade, foi morto. O Quilombo foi construído e usado como refúgio por escravos fugitivos. Tempos mais tarde, foi realizado, em 1978, em congresso, pelo Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, a eleição da figura de Zumbi como símbolo da luta e resistência dos negros no Brasil. Por conta dessa reinvindicação e para a valorização de um símbolo histórico, foi instituído oficialmente pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, o Dia da Consciência Negra, em referência à data de falecimento de Zumbi.

O mês, marcado por essa data tão cheia de significados, relembra a necessidade de abordar o racismo e debater meios para o fim da discriminação. Para início de conversa, o que é racismo? Ele está ligado à ideia discriminatória entre seres humanos que leva em conta diferenças externas, como a cor da pele. E a manifestação desse ato, na maioria das vezes, acontece levando em conta questões de superioridade ou inferioridade de determinados grupos em detrimento de outros.

O que se deve levar em conta é que o racismo não é apenas uma forma de discriminar a pele, mas envolve relações sociais, políticas, jurídicas e econômicas que desfavorecem uma pessoa ou grupo por conta de sua etnia. “O racismo tem um componente histórico, estrutural e estruturante que condiciona as estruturas sociais como o estado, a linguagem, as instituições e as relações. Essa condição mina as possibilidades e estabelece diversas barreiras para a população negra para o acesso, desde a direitos básicos como a saúde, até a conceitos mais abstratos como a estima”, explica Yuri Brandão, aluno do 12º semestre de Medicina da Universidade de Taubaté (UNITAU) e presidente do Coletivo Negro Luísa Mahin.

Reconhecendo a demanda pela luta contra a desigualdade racial no país, estudantes de Medicina da UNITAU se reuniram e formaram o Coletivo Negro Luísa Mahin. O nome do órgão foi escolhido em homenagem à mulher negra e de origem africana, líder da Revolta dos Malês. O objetivo do Coletivo é promover uma transformação antirracista no meio acadêmico, por meio de ações de conscientização, além de suporte e incentivo à denúncia de casos de discriminação.

“Racismo e injúria racial são crimes e não temos o que discutir quanto a isto, apenas agir de acordo e aplicar a lei. Assim, somado a construção e a disseminação de canais de denúncia confiáveis e seguros, poderemos estimular as pessoas a denunciarem mais’’, fomenta Yuri. A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, pune crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, com pena de um a três anos de reclusão e multa.

A luta antirracista deve contar, também, com aliados. “O branco pode e deve combater o racismo na sua realidade com atitudes práticas de mudanças, o que muitas vezes envolve abrir mão de privilégios e contestar situações confortáveis, sempre priorizando o protagonismo negro na luta antirracista e exercendo a escuta ativa para com a população negra”, completa Yuri.

Para exercitar o senso crítico e se posicionar de forma consciente, é necessária uma reforma dos velhos costumes, que deve partir de uma busca ativa dos aliados, não apenas do aprendizado passivo, conduzido pela população negra. “Assumir a responsabilidade de se informar e de produzir conhecimento sobre esse tema é o primeiro passo para alguma mudança efetiva”, pontua o aluno.

“Hoje temos diversas fontes confiáveis e válidas para buscar conhecimento, principalmente por meio da internet. Nesse sentido, toda informação confiável é válida, vai de acordo com o que funciona para cada um. Pode-se buscar livros físicos, audiobooks, podcasts, palestras, simpósios, entrevistas sobre os mais diversos temas, etc. É importante destacar a importância de sempre buscar autores e produtores negros que trabalhem com esse tipo de conteúdo, como Djamila Ribeiro com seu livro ‘Pequeno Manual Antirracista’”, conclui Yuri.

Caio Pascoal

ACOM/UNITAU