"Recenseadores do passado" mapeiam Taubaté de 250 anos atrás

20/09/2022 21h24 ⋅ Atualizada em 21/09/2022 08h52

CICTED, História, Pesquisa Científica, Aluno, Professor, UNITAU

 

No momento em que agentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ganham as ruas do Brasil para o maior levantamento populacional do país, uma professora e dois alunos do curso de História da Universidade de Taubaté (UNITAU) tornam-se recenseadores do passado para traçar o cenário de uma Taubaté de 250 anos atrás.

A pesquisa antecipa em um século o primeiro censo realizado pelo Império em 1872 no Brasil. Anteriormente a esse período, existiam as “listas nominativas de habitantes”. Nesse caso, especificamente, o principal documento histórico que será  analisado é um manuscrito de 1772 denominado “Lista Geral de todos os moradores, respectivas idades, bens e rendimentos, da Vila de Taubaté, Capitania de São Paulo”. O documento faz parte do acervo do Arquivo Histórico Ultramarino, situado em Lisboa (Portugal) e foi digitalizado por meio de uma iniciativa do Projeto Resgate Barão do Rio Branco, do extinto Ministério da Cultura e atual Secretaria Especial da Cultura do Brasil.

“Vai ser um trabalho de detetive porque está tudo nas entrelinhas dos documentos. As listas eram produzidas por vários escrivães diferentes. A gente consegue ver nessas listas a população de homens, mulheres, crianças, os escravos, pessoas vivendo de esmola, qual era o perfil dos chefes de família. É um material muito rico, com a história social, econômica e das famílias do século 18”, afirma a coordenadora da pesquisa, Profa. Dra. Maria Fátima de Melo Toledo.

Segundo a pesquisadora, as informações desse documento histórico devem ser cruzadas com as de outros materiais. “Não vamos entender o que está escrito ali como verdade absoluta. Vamos cruzar os dados com outros documentos da região como inventários e testamentos que se encontram no arquivo histórico de Taubaté.”

Para esse trabalho, a professora também conta com a experiência de recenseadora do IBGE adquirida em 1980, quando ela participou como supervisora, e também como agente de campo durante o levantamento econômico e industrial ocorrido no mesmo ano. “Eu tinha 20 anos à época e andei pelos sertões de Taubaté. Nessa pesquisa, o nosso documento é um tipo de recenseamento, termo que não existia à época, quando um capitão local ia a cavalo, acompanhado por um soldado, de casa em casa, levantando a população, os bens, toda a riqueza ou pobreza da Vila de Taubaté.”

O trabalho de análise da lista é dividido com os estudantes Júlia Carolina da Silva Azevedo, do 6º período do curso de História, e Vinícius dos Santos Gonçalves, do 4º período, ambos voluntários.

Júlia, que já trabalhou anteriormente em museus, disse que o que despertou o seu interesse foi a possibilidade de pesquisar um documento de 250 anos como esse do Arquivo Histórico Ultramarino.

“Uma pesquisa como essa enriquece a nossa história regional. Como professora, acho que a oportunidade de ter acesso a essa documentação vai fortalecer muito meu trabalho junto aos alunos.”

Vinícius, que já participou de olimpíadas de História quando era aluno do ensino médio, quer seguir a carreira acadêmica. “Quando eu era aluno do ensino médio, tinha contato com documentos históricos e me interessava bastante por eles. Quando falei com a professora Fátima sobre a pesquisa, casaram-se os dois assuntos dos quais gosto muito, que são a história regional e a transcrição de documentos.”

A pesquisa deve levar cerca de um ano para ser concluída e a proposta é a de que seja transformada em um livro. As primeiras observações já disponíveis serão submetidas à apreciação da comissão avaliadora dos trabalhos do XI Congresso Internacional de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento (Cicted) da UNITAU, que acontece entre os dias 19 e 21 de outubro.

“A ideia é levar posteriormente essa pesquisa para a educação básica, distribuir esse material nas escolas. A história explica muita coisa do presente”, conclui a professora Fátima.

ACOM/UNITAU