Palestra promove a inclusão de surdos no Setembro Azul

21/09/2021 11h36 ⋅ Atualizada em 24/09/2021 08h25

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Os departamentos de Ciências Sociais e Letras e de Serviço Social realizam, na terça-feira (21), às 19h, a palestra “A educação indígena e o estudante surdo”. O evento virtual irá contar com Shirley Vilhalva, professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e escritora surda, como palestrante.

O Setembro Azul é o mês escolhido para dar visibilidade à comunidade, para comemorar as conquistas e falar sobre a importância das escolas bilíngues, pois a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é uma língua oficial do Brasil. Já a cor azul representa o mês por conta das fitas azuis que eram amarradas às pessoas surdas durante a Segunda Guerra Mundial, marcando-as para serem enviadas aos campos de concentração.

No entanto, a cor azul volta a ser usada como símbolo de orgulho e resistência no presente, principalmente pelo reconhecimento e pela aceitação da surdez não como uma deficiência, mas sim como uma característica que torna a pessoa quem ela é. Por isso há duas denominações para a incapacidade auditiva: surdez, que é a falta completa de audição e uma identidade aceita e celebrada pela comunidade surda; e deficiência auditiva, que é a perda parcial da audição, quando a pessoa pode optar por um implante coclear ou por um aparelho auditivo. No entanto, nenhuma das duas denominações é dita como obrigatoriamente falante de língua portuguesa oral ou de Libras.

De acordo com a Profa. Ma. Viviane Galvão Botelho Neves, professora de Libras na Universidade de Taubaté (UNITAU), há diferentes meios de comunicação utilizados pela comunidade: “A língua brasileira de sinais deve ser considerada a primeira língua das pessoas surdas (no caso das comunidades Surdas não indígenas), e a língua portuguesa na modalidade escrita deve ser o segundo passo para a comunicação. A oralidade deve ser uma escolha das pessoas surdas, e não uma imposição como aconteceu ao longo da história”.

A palestra é de suma importância, principalmente por ser apresentada por uma mulher surda em seu local de fala. “A surdez deve ser discutida para que tabus sejam superados e para que a visão socioantropológica seja conhecida, a fim de que o surdo seja entendido e respeitado enquanto individuo único e munido de capacidades e de potencialidades como qualquer outra pessoa”, declara Erliandro Silva, mestrando em linguística aplicada na Universidade de Taubaté (UNITAU) e mediador da palestra. Para Erliandro, o tema discutido será de grande auxílio em sua vida profissional: “Quando estamos em uma palestra em que o palestrante está no seu lugar de fala, que vivenciou e vivencia o tema abordado, começamos a entender o mundo do outro. Enquanto futuro professor, acredito que me colocar no lugar do outro é extremamente importante. Dessa forma, a palestra me auxilia a começar a entender outras realidades e me tornar um melhor profissional”.

A inclusão é um assunto muito discutido, e o primeiro passo para tal é uma adequação no currículo escolar: “Estudos mostram que crianças ouvintes aprendem a língua portuguesa diferentemente das crianças surdas, porque a língua portuguesa para as crianças surdas é uma segunda língua, e por isso ela deve ser ensinada de maneira visual, em uma sala bilíngue, para trabalhar essas especificidades”, declara a Profa. Ma. Viviane.

A palestrante e professora Shirley Vilhalva destaca, no entanto, que a Libras não deve ser tratada como única língua de sinais no Brasil, principalmente porque cada uma das duas comunidades indígenas em que realizou seus estudos tinha sua língua de sinais específica, a língua guarani e a Terena em uma comunidade indígena, bem como as registradas pelo pesquisador Godoy (2020 - língua de sinais a ka'apor) e pela pesquisadora Soares (2018 a língua de sinais terena). A professora afirma que deseja divulgar seu trabalho em comemoração aos 30 anos de sua pesquisa: “Espero continuar divulgando esse trabalho, e interagir com os acadêmicos, mostrar que não devemos ter um olhar de julgamento. É equivocado achar que a Libras é superior às outras línguas de sinais, as outras são tão importantes quanto. No meio acadêmico e social, os surdos estão presentes em todos os locais. No meio acadêmico, apenas a Libras é divulgada como uma disciplina, mas poucos sabem que existem línguas de sinais indígenas, e línguas de sinais emergentes de culturas locais”.

A palestra irá ocorrer no canal da TV Unitau, no dia 21 de setembro, terça-feira, e toda a comunidade acadêmica e demais pessoas estão convidadas a participar. Com tradução simultânea em Libras, não é necessário fazer a inscrição.

 

Giovana Vasconcelos

ACOM/UNITAU