Biólogo e meteorologista alertam sobre a importância da conservação da Amazônia para o planeta

03/09/2021 14h33 ⋅ Atualizada em 03/09/2021 16h20

UNITAU, Destaque, Acontece, Biologia, Preservação, Amazônia

 

Em 5 de setembro de 1850, D. Pedro II criou a província do Amazonas e, atualmente, nesse mesmo dia, é comemorado o Dia da Amazônia. A data comemorativa foi instituída pela Lei n° 11.621, de 19 de dezembro de 2007, com o objetivo de chamar a atenção da comunidade para uma das maiores reservas naturais do mundo. A Amazônia abarca uma rica biodiversidade e, por isso, é fortemente explorada, o que pode causar sérias consequências para todo o planeta.

A Amazônia tem a maior biodiversidade do mundo e detém muitas espécies nativas, que não são encontradas em outros lugares. Estima-se que a floresta abriga aproximadamente 20% de todas as espécies da fauna do planeta. Além disso, os rios amazônicos constituem a maior bacia hidrográfica do planeta, e a região abriga diversas comunidades que dependem diretamente da floresta para a sua sobrevivência.

O Professor Júlio Cesar Voltolini, Doutor em Biologia Vegetal e Mestre em Zoologia, docente na Universidade de Taubaté (UNITAU), descreve o processo na bacia hidrográfica da região “A água dos rios da Amazônia provém principalmente do degelo das neves no alto da Cordilheira dos Andes, que escorrem paro o lado leste e formam os atuais rios da bacia amazônica”, explica o docente, que morou durante meses na Amazônia durante a realização de um projeto de fragmentação florestal do Instituto Smithsonian, de Washington.

Em decorrência do uso desenfreado desse bioma, como a extração madeireira, desmatamentos ilegais, agricultura, pecuária e mineração, a fauna e a flora da região são diretamente afetadas, além de causar desequilíbrios, crises ambientais e mudanças climáticas em escala global. “A população brasileira pode se desenvolver sem a necessidade de desmatar a Amazônia, porque nós podemos, por exemplo, utilizá-la para outras atividades como o turismo. Uma observação muito importante é que nós também podemos retirar a madeira da floresta amazônica, mas, para isso, é necessário que se faça um manejo sustentável, ou seja, para cada árvore que eu retiro, eu tenho de plantar algumas centenas de mudas da mesma espécie no local”, expõe o professor.

Diversas espécies da Amazônia são importantes para a produção de medicamentos, alimentos e outros produtos. O Plano Amazônia sustentável (PAS) fez um diagnóstico detalhado da região e apontou que mais de 10 mil espécies de plantas da área têm princípios ativos para uso medicinal, para a cosmética e para o controle biológico de pragas. “Nós temos um tesouro genético impressionante e que ainda é pouquíssimo conhecido. Nós precisamos de mais pesquisas científicas para fazer levantamentos da fauna, da flora e de substâncias bioquímicas que existem na Amazônia”, opina o biólogo.

A UNITAU realiza uma pesquisa sobre as alterações climáticas na Amazônia em parceria com a Universidade de Manchester (Reino Unido), com pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Um dos colaboradores do estudo é o Professor Gilberto Fernando Fisch, Doutor em Meteorologia, docente da UNITAU e pesquisador na Amazônia durante 5 anos pelo INPE.

“A Amazônia tem uma vegetação de porte alto muito rica do ponto de vista de biomassa, que é basicamente carbono. Então, a Amazônia tem uma influência direta no balanço de carbono mundial. O desmatamento dessa região pode impactar o balanço, pois o carbono é um dos gases do efeito estufa que influencia nas mudanças do clima e no aquecimento global”, esclarece o meteorologista.

As interferências no clima devido ao desmatamento são diversas. No local ocorre a savanização. Com o corte das árvores, passa a ser criado um novo ecossistema, que levará a um clima de deserto ao longo dos anos. Já regionalmente, o ciclo hidrológico é afetado, pois as árvores bombeiam vapor d’água do solo para a atmosfera, que é transportado pelos “rios voadores” para a região Sul e para a região Sudeste.

O docente afirma que preservar não significa não explorar, mas explorar de uma maneira racional e inteligente. “Além de reduzir o desmatamento, nós precisamos olhar para frente e criar alternativas de exploração inteligente. A Amazônia vale muito mais preservada, do ponto de vista financeiro, gerando novos produtos bioquímicos e agronômicos, do que simplesmente como fornecedora de madeira e para, depois da extração, ter áreas de pastagem, por exemplo”, comenta

A preservação da biodiversidade amazônica também auxilia a conservar outros ecossistemas na região e no mundo todo. “Não tem lugar no mundo que, de certa maneira, não tenha sua associação com a Amazônia. Algumas associações vão ser mais fortes, outras vão ser mais fracas, mas o mundo inteiro está conectado com a Amazônia”, reflete o meteorologista.

Pequenas atitudes podem ser tomadas para evitar a destruição desse importante patrimônio natural. Entre elas, estão: no âmbito regional, oferecer alternativas de emprego, que não sejam a extração de madeira e, no âmbito nacional, realizar campanhas educativas de preservação da floresta, reduzir o consumo de papel, madeira e plástico, digitalizar documentos, fazer a reciclagem de produtos usados e dar preferência a objetos que têm como base a madeira de reflorestamento.

Foto: João Rodrigues

Bianca Guimarães
ACOM/UNITAU