Ex-aluna do Mestrado em Linguística Aplicada lança livro sobre reconto de contos de fadas

25/02/2021 15h43 ⋅ Atualizada em 12/03/2021 15h04

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Escutar, falar, pensar, imaginar e recontar. Esse é o caminho percorrido por um grupo de crianças entre 5 e 6 anos na apropriação de um conto de fadas e na inserção de características de seus próprios cotidianos. Essa jornada, conduzida pela Profa. Ma. Maria José Paiva Moreira, levou à publicação do livro Do conto ao reconto: estratégias lúdicas no percurso da autoria.

O livro, lançado em 21 de fevereiro, também é a dissertação do Mestrado em Linguística Aplicada concluído por Maria José na Universidade de Taubaté (UNITAU). No dia 12 de março, ela fará a apresentação de sua obra na aula inaugural do ano letivo do curso.

Maria José é professora da Rede Municipal de São José dos Campos e desenvolve seu trabalho em uma creche há 15 anos. A atividade com as crianças, que gerou a dissertação, aconteceu em 2018. A tese foi defendida em 2019, e o trabalho de adaptação para o livro ocorreu no ano passado.

Foram trabalhados três recontos orais com as crianças. A proposta era de que um desses recontos seria selecionado por elas para a produção de um pequeno livro. A morte da mãe de uma das alunas alterou o rumo do projeto. “As amigas dela falavam, não se preocupe. Você vai ser feliz, porque no final da história você sempre é feliz. Foi aí que três alunas vieram me procurar e perguntar se podiam criar uma nova história com a mãe dessa menina.”

A mãe falecida, uma cabeleireira negra especializada na confecção de tranças, passou a ser incorporada no imaginário dos pequenos como uma princesa. A tradicional Branca de Neve se transformou em Linda Noite e ganhou a companhia das sete anãs. “Fomos rememorando as princesas dos contos de fadas e pude trabalhar com eles questões de raça e etnia. Eles conseguiram ilustrar a princesa e fizemos o lançamento na escola no Dia da Consciência Negra”, comenta a professora.

Em um mundo permeado pela tecnologia e profundamente afetado pela pandemia do coronavírus, Maria José destaca a necessidade de reviver os contos de fadas para incentivar o gosto pela leitura, além de aumentar a autoestima das crianças, mostrar que as dificuldades podem ser vencidas, ajudá-las a elaborar melhor os sentimentos negativos, a lidar com o medo e com a insegurança, com o abandono e com a frustação, com a rejeição, com a inveja, com o sentimento de inferioridade, com a raiva ou mesmo com a vingança.

“Existia um senso comum de que, para crianças pequenas e não alfabetizadas, deveriam ser oferecidas leituras curtas e simplificadas. Com esse trabalho, mostrei que é possível ler textos maiores, melhores, de qualidade. As crianças aprendem e passam a usar novas palavras dentro de seus contextos”, avalia Maria José.

Para a Profa. Dra. Vera Batalha, orientadora da dissertação de mestrado, o trabalho desenvolvido por Maria José é uma importante contribuição à oralidade, ao desenvolvimento da linguagem e adequado às aprendizagens da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

 “Esse é um trabalho que ensina outros professores a desenvolver a oralidade, a reconstruir os textos. As crianças vão recontar a historia.”

Com isso, são incorporadas à alfabetização as habilidades do letramento, que são o uso competente da leitura e da escrita nas práticas sociais. “É o que falta a 30 milhões de brasileiros. Sei a leitura escrita, mas não me sirvo dela”, conclui Vera. 

O curso de Mestrado em Linguística Aplicada da UNITAU tem como objetivo geral a formação teórico-crítica de educadores e de pesquisadores em ensino e em aprendizagem de línguas e áreas afins e em estudos da linguagem e do discurso. O período de matrículas vai de 8 a 12 de março. Mais informações podem ser obtidas aqui.

 

Foto: acervo pessoal

ACOM/UNITAU